A importância da geografia
A consciência dessa
geografia produzida, individual e genericamente, provoca alterações na prática
social cotidiana. O distanciamento das ações cotidianas […] para refletir sobre
as coisas manipuladas cotidianamente, é uma pratica cotidiana necessária quando
se quer elevar as ações ao nível do humano genérico, quando se quer dar um
sentido social a essas ações. (CAVALCANTI, 1998, p. 123).
Para que cada sujeito
possa entender o que acontece na vida cotidiana, é fundamental que ele consiga
abstrair daquilo que é o dia a dia de sua vida, das questões que acontecem no
lugar em que ele vive. E, desta forma refletir se distanciando das ações
corriqueiras para perceber que os acontecimentos não são simplesmente do acaso,
mas que o mundo é construído socialmente, cada um realizando a sua parte –
fazendo algo ou não fazendo nada. Só assim é possível compreender as coisas
historicamente situadas e construídas no cotidiano da vida. De outra forma,
aparecem como mágicas ou naturais tanto as coisas negativas como as positivas.
A abstração permite refletir sobre o cotidiano e, com a oportunidade de ver de
longe, de forma distanciada, as coisas que acontecem assumem novas feições.
Quer dizer, apresentam-se em sua complexidade. As pessoas vão construindo seus
espaços enquanto constroem suas vidas, suas histórias, e isso precisa ser
compreendido. Neste sentido, a geografia pode contribuir para facilitar a
compreensão do mundo em que o aluno vive, pois:
É uma prática social que ocorre na história
cotidiana dos homens. Há uma geografia das coisas e da vida cotidianas. Essa
geografia pode ser pensada ou conhecida no plano cotidiano e no do
não-cotidiano, sendo que cada tipo de conhecimentos tem suas características
próprias. (CAVALCANTI, 1998, p. 122).
É, portanto, um grande
desafio ter as ferramentas intelectuais para se apropriar e teorizar a partir
das rotinas do dia a dia. À escola, como instituição de educação formal, cabe
ter o aparato metodológico para exercitar o olhar, a observação, a constatação,
enfim, do que acontece no cotidiano e, assim, colocar tudo isso num contexto
mais amplo que permita a superação da dimensão individual e a construção do
entendimento social, colocando as questões no plano da humanidade. A citação a
seguir pode explicitar mais ainda este entendimento.
Busca-se, assim, transformar os limites das
experiências espaciais cotidianas e individuais em potencialidades para
o desenvolvimento do pensamento abstrato,
conceitual, crítico, indispensável para desmontar, por exemplo, uma falsa
representação da realidade, ou
representações superficiais ingênuas. (CAVALCANTI, 2008, p. 144).
Lugar é onde vivemos, moramos, trabalhamos, enfim, onde
acontece nossa vida. Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são o
resultado da vida em sociedade,
dos homens na busca pela sobrevivência e pela
satisfação de suas necessidades, significa “estudar o lugar para compreender o
mundo” (CALLAI, 2002).
O que
acontece num determinado lugar não é resultado apenas de decisões internas,
portanto associadas ao voluntarismo dos atores locais. Da mesma forma, não é
apenas por decisões externas que
vêm de cima para baixo, submetendo a todos, sem a
possibilidade de contestação ou de interferência desses mesmos atores locais,
sujeitos que ali vivem.
A
pesquisa como procedimento para conhecer o lugar pode
ser uma forma de trabalhar com o mundo da vida. Para tanto, podem se levantar
as seguintes questões: Como ler a realidade? O que e
como ler? Como conhecer o que está no lugar? Como
entender as paisagens que ali se configuram? Como observar e reconhecer nossas histórias
no espaço? Como reconhecer nos lugares os resultados
materializados de nossas vivências?
Portanto,
trabalhar com uma dimensão escalar torna-se uma exigência, capaz de superar a
interpretação localista e fechada que impede o encontro de explicações para o
que vai acontecendo. E a
escala social de análise precisa estar clara e referenciar
todo e qualquer estudo, pois além do global/mundial e do local, temos também níveis
intermediários que são o regional e o nacional. E o universal está presente em
todos esses recortes, que são espaciais, mas também políticos, administrativos,
culturais e sociais. Cada lugar está inserido numa rede que comporta essa
escala de análise e, por isso, a articulação dos fatos, fenômenos e forças
reais e/ou virtuais tem de ser reconhecida e considerada em seu contexto.
Talvez seja importante deixar claro o que se
entende por escala social de análise.
Refletir
sobre escola, cotidiano e lugar nos
reporta a pensar no mundo da vida e na criança inserida nele e a escola passa a
dar as ferramentas para que ela o interprete. Ler o mundo da vida, ler o espaço
e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em
sociedade, dos homens na busca pela sobrevivência e pela satisfação de suas
necessidades, poderia ser o ponto de partida para se definir a presença da
geografia nos anos iniciais do ensino fundamental.
Neste
sentido, cotidiano e lugar passam a ser conceitos importantes na aprendizagem
escolar. E a referência teórica (da geografia) considera o espaço socialmente
construído pelo trabalho e pelas formas de vida dos homens. Avançando, é importante
a ideia que considera que a aprendizagem é social e acontece na interlocução dos
sujeitos, estejam eles presentes fisicamente, ocupando um espaço próximo,
estejam distantes, com contatos virtuais.
É
preciso conhecer este lugar e, para isso, há que se considerar que cada sujeito
vai trabalhar com seu cotidiano; ali ele “conhece tudo”, sabe o que existe e o que
falta, como são as pessoas, como estão organizadas as atividades, como é o
lugar, enfim. Este é um saber do senso comum, aquele que faz parte da rotina
diária de vivência (sabe-se de ver, de ouvir, de contar etc.). Exatamente neste
ponto reside o aspecto fundamental deste tipo de trabalho – como trabalhar o
lugar, sem considerá-lo o “único”, sem pensar que as explicações estão todas
ali e sem cair no risco de isolá-lo no espaço e no tempo.
Pelas ondas do saber
Conhecer, agir e transformar o ambiente.
Marsílvio
Gonçalves Pereira*
Há um descuido e um descaso na salvaguarda de nossa
casa comum, o planeta terra. Solos são envenenados, ares são contaminados, águas
são poluídas, florestas são dizimadas, espécies de seres vivos são
exterminadas; um manto de injustiça e de violência pesa sobre dois terços da
humanidade. Um princípio de autodestruição está em ação, capaz de liquidar o
sutil equilíbrio físico-químico e ecológico do planeta e devastar a biosfera,
pondo assim em risco a continuidade do experimento da espécie Homo sapiens e
demens. (Boff, 1999, p. 20).
Um tema interessante a ser trabalhado é a poluição do ar. O professor deve levar o aluno ao
desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, como, por
exemplo, sugerir que os alunos identifiquem as fontes poluidoras de ar no
ambiente em que vivem. Para motivar seus alunos à participação na atividade, o
professor pode sugerir deles que ouçam e cantem a música Xote Ecológico de Luiz Gonzaga.
Xote Ecológico
Luiz Gonzaga
Não posso respirar, não posso mais nadar.
A terra tá morrendo, não dá mais
pra plantar.
Se planta não nasce se nasce não dá.
Até pinga da boa é difícil de encontrar.
Cadê a flor que estava ali?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu.
E o verde onde que está?
Poluição comeu.
Nem o Chico Mendes sobreviveu.
A terra tá morrendo, não dá mais
pra plantar.
Se planta não nasce se nasce não dá.
Até pinga da boa é difícil de encontrar.
Cadê a flor que estava ali?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu.
E o verde onde que está?
Poluição comeu.
Nem o Chico Mendes sobreviveu.
A partir desta canção, uma
situação-problema pode ser apresentada aos alunos: o ar que nos rodeia exerce
funções importantíssimas na manutenção da vida na terra. Os seres vivos
utilizam os gases componentes do ar para diferentes finalidades, dentre elas, a
respiração. No entanto, o homem tem lançado, na atmosfera, resíduos ou outros
materiais provenientes do processo de fabricação ou usados em suas atividades,
que alteram a qualidade do ar, tornando-o prejudicial ao próprio homem, a
outros animais ou a qualquer ser vivo. A atividade aqui proposta vai tratar
exatamente dessa temática, ou seja, da poluição do ar. É interessante iniciar
investigando sobre o conhecimento espontâneo que a criança tem em relação ao
tema em estudo, e daí realizar as aproximações necessárias destas com o
conhecimento científico específico. Isto pode ser feito através de exercícios
de pintura/desenho, exercícios escritos, leituras dinâmicas, dentre vários
recursos metodológicos.
A própria discussão a partir da problemática que a música oferece é uma
oportunidade de identificar as formas de pensar dos alunos. O professor pode
agora lançar um desafio aos alunos, propondo que eles pesquisem e desenvolvam
algum experimento para identificar fontes e poluentes do ar que eles ou outras
pessoas respiram.
Outra atividade interessante,
envolvendo música e integrando Ciências com Língua Portuguesa, que pode ser
desenvolvida com os alunos da 4a e 5a série, está relacionada ao assunto tipos de fontes de energia. O objetivo é oferecer uma
oportunidade para o aluno desenvolver a habilidade de expressão oral e escrita,
trabalhando um conteúdo da área ambiental.
Alguns materiais que devem ser providenciados para o desenvolvimento da
atividade: pequeno texto sobre tipos de fontes energéticas e seu uso (pode ser encontrado no livro
didático); recortes coloridos de revistas e jornais com ilustrações de tipos de
fontes de energia; cartolina; pincéis multicoloridos; letra da música Luz do sol; CD com a gravação da música a ser
trabalhada; toca-CD; giz, apagador e lousa.
O método aqui proposto é o MOF (mostrar, ouvir e falar). A metodologia deve ser desenvolvida em duas etapas.
Na primeira etapa, o professor organiza
a turma em equipes de três ou quatro alunos e solicita a leitura oral do texto
em cada equipe. Depois, pede que os alunos respondam a seguinte pergunta (apresentada
na lousa): O que são fontes energéticas renováveis e não renováveis?
Após distribuir os recortes coloridos sobre o assunto entre as equipes,
solicita aos alunos que classifiquem o material recebido quanto à representação
do tipo de fonte energética e seu uso. Cada equipe deve organizar cartazes com
a elaboração de frases ou de pequenos textos explicativos relacionados ao
material que será apresentado, de modo a destacar o tipo de fonte energética
que representa o material e a importância de seu uso pelo homem. Para
terminar esta primeira etapa, o
professor organiza a apresentação dos cartazes por equipe (momento da
externalização do saber – mostrar, ouvir e falar) e monta um quadro na lousa para fazer anotações e discutir com os
alunos os resultados obtidos.
Na segunda etapa, o professor deve distribuir a cópia da música (ver
logo abaixo), solicitar uma leitura oral, que escutem a música(momento do ouvir) e depois cantem com o CD. Então,
apresenta aos alunos as seguintes perguntas: Qual a fonte ou quais as fontes de energia
que você consegue identificar na música? O que você destacaria na
letra da música que tem relação com o
assunto da aula e por quê?
Finalmente, o professor deve conduzir a discussão dos resultados com
seus alunos. Para isso as respostas devem ser organizadas na lousa.
Luz do Sol - Caetano Veloso
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça, em vida,
em força, em luz.
Céu azul que vem até
Onde os pés tocam na terra
E a terra inspira e exala seus azuis
Reza, reza o rio.
Córrego pro rio, o rio pro mar
Reza correnteza, roça a beira
doura a areia
Marcha o homem sobre o chão
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza
Coisa mais querida, a glória da vida
Luz do Sol que a folha traga e traduz.
Em verde novo, em folha, em graça, em vida
Em força, em luz.
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