sexta-feira, 22 de junho de 2012

Coletânea de Contos Infantis













A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro. No faz de conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de uma situação que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para ela no momento e que evocam emoções sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias.
Os contos e as histórias povoam o universo infantil. Principalmente com relação aos contos, sempre se enfatizam aqueles da tradição europeia, como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e outros. Não trazemos para cultura escolar e para cultura infantil os contos africanos, indígenas, latino-americanos, orientais. Para educação que respeite a diversidade, é fundamental contemplar a riqueza cultural de outros povos, e nesse sentido vale a pena pesquisar e trabalhar com outras possibilidades.
Outras histórias da nossa literatura, como História da Preta, O Menino Nito, Ana e Ana, Tranças de Bintou, Bruna e a Galinha de Angola permitem o contato com as culturas afro-brasileira e africana, com personagens negras representadas com qualidade e beleza.

Referência Bibliográfica:



O leopardo

Um dia, o leopardo Nebr teve fome e logo tratou de arranjar maneira de encontrar comida, da forma mais fácil.

Pediu ao seu filho Shabeel, que espalhasse pelas redondezas que, ele, a Sua Alteza, o Rei da Floresta, se encontrava muito doente. Assim foi feito! Um pouco por todo o lado se começou a ouvir o seguinte anúncio:

O leopardo Nebr, nosso chefe, está a morrer.
Todos os animais devem vir visitá-lo.

Pouco a pouco, alguns animais começaram a chegar a casa de Nebr, que ao pressenti-los, deitou-se, fechou os olhos e fingiu-se de morto. Não demorou muito, para que novos cânticos começassem a circular:

O nosso Rei morreu, morreu.
Que tristeza a nossa!

Depois de Shabeel ter trancado as portas, Nebr levantou-se de repente e matou todos quantos se encontravam na sua casa; comendo uns e guardando outros, para mais tarde se refastelar.

Passado mais algum tempo, chegaram outros animais, para prestar as suas condolências. Entre eles, vinha a gazela, acompanhada do porco-espinho. Desconfiada, reuniu todos os presentes e contou-lhes das suspeitas que tinha sobre estarem a cair numa armadilha do leopardo. Como forma de precaução, decidiram procurar um lugar para se esconderem, caso fosse necessário. Todavia, só o porco-espinho é que não conseguiu encontrar um esconderijo.

É então, que a gazela, espreitando para dentro da casa de Nebr, teve a seguinte ideia:

-Porco-espinho, tu vais devagarinho esconder-te naquele buraco que está perto do leopardo. Depois, cravas-lhe no corpo um dos teus espinhos mais fortes e quando vires que as coisas estão mal paradas, escondes-te, que nós fazemos o mesmo.

Assim foi! O porco-espinho dirigiu-se para junto de Nebr, o qual continuava a fingir estar morto. Primeiro, espetou os espinhos devagarinho e nada aconteceu.

O leopardo estava mesmo morto!

Depois, decidiu cravar com mais força. Foi, então que , Nebr, não conseguindo aguentar as dores por mais tempo, se levantou e começou a correr atrás do seu agressor.

Todos se esconderam, enquanto o leopardo ficava cada vez mais furioso. Face a esta situação, a gazela cantarolou:

O leopardo é o Rei da Floresta pela sua força, mas não pela esperteza.

e os outros animais repetiram em coro:

Devemos a vida à pequena e esperta gazela.

A ela devemos a vida!


Por que o porco vive no chiqueiro

Esta história é do tempo em que o porco morava com o dentuço do seu tio, o javali, lá no meio da mata africana.

Os dois passavam as manhãs, alegres e despreocupados, fuçando o chão em busca de frutas e raízes. À tardinha, depois de ficarem horas e horas se banhando e chafurdando na águas dos inumeráveis rios que cortam a profundeza da selva, regressavam à casa, situada no oco de uma árvore muito velha, para tirarem uma longa soneca.

O javali adorava a vida ao ar livre. Graças aos seus pontiagudos e afiados dentes, não era incomodado, nem mesmo pelo poderoso rei da selva: o leão, que o tratava com todo respeito.

Mas o porco, muito preguiçoso, vivia reclamando de tudo. Um dia, ele chegou perto do tio e anunciou:
- Eu quero morar na aldeia dos homens.
- O quê?- respondeu o surpreso javali. – As pessoas que moram naquelas estranhas cabanas cobertas de palha não gostam de bichos. Vão te prender. – avisou.
- Estou cansado de comer só frutas e raízes todos os dias - protestou o porco.
- Não faça isso, sobrinho pediu o javali. – Aqui nós vivemos em liberdade e junto à natureza - aconselhou o mais velho.
O porco, que vivia sonhando saborear as guloseimas dos caldeirões fumegantes das mulheres, não deu ouvidos às advertências do tio e partiu no dia seguinte.

A viagem até a aldeia dos homens foi longa, penosa e cheia de perigos. Mas o guloso, farejando a comida no ar, acabou chegando a um grande povoado.

As crianças do vilarejo, assim que avistaram o animal, foram correndo chamar os adultos. Os homens, armados de paus e porretes, pegaram o pobre do porco e o colocaram dentro de um cercado.
Desde esse dia ele vive preso no chiqueiro comendo restos de comida e, lamentando a sua sorte, choraminga dia e noite:
- Bem que meu tio disse para eu não vir para a aldeia dos homens.



Graças à rã Mainu

Quando o filho de Kimanaueza chegou à idade de casar, o pai perguntou.-lhe se queria escolher a noiva. Mas ele deu uma resposta surpreendente:
– Não me casarei com uma mulher da terra, só casarei com a filha do senhor SOL e da senhora LUA.
– E como pensas pedi-la em casamento?
– Cá me hei de arranjar.
O rapaz escreveu uma carta e foi pedir a um veado que a levasse. Ele recusou:
– Sendo um animal terrestre, não posso levar ao céu a carta.
– Tens razão, vou arranjar outro mensageiro.
Depois de falar com o antílope que lhe deu uma resposta semelhante à do veado, o rapaz procurou quem pudesse voar. Teve uma conversa com o falcão, que ainda agitou as asas mas desistiu:
– Desculpa, não te posso valer. O céu é muito alto.
Quanto ao abutre, foi mais direto:
– Nem penses. O fôlego só me permite ir até meio caminho.
Desconsolado o rapaz guardou a carta. Acontece que a notícia daquele estranho desejo já se tinha espalhado pela aldeia e chegou aos ouvidos da rã Mainu, que resolveu oferecer os seus serviços. O rapaz ficou admirado e até zangado:
– Como te atreves a dizer que vais ao céu se aqueles que possuem asas garantem que não é possível!
– Dá-me a carta e eu levo-a - insistiu a rã Mainu.
Ele aceitou com maus modos.
– Toma. Mas olha que se não cumprires o combinado, levas uma sova.
A rã não ficou nada aflita. Dirigiu-se ao poço onde o povo do Sol e da Lua costumava abastecer-se de água, prendeu a carta na boca, desceu e ficou quieta.
As pessoas esperadas não tardaram e logo que lançaram o balde à água a rã entrou disfarçadamente e assim viajou até ao céu sem ninguém saber. Chegando ao destino, deu um pulo e foi colocar a carta no quarto do rei Sol e da senhora Lua. Eles ficaram muito admirados quando leram a carta mas aceitaram o pedido. A rã Mainu regressou a casa pelo mesmo processo. A noiva desceu à terra deslizando por um fio especial tecido pela aranha que servia o rei.
O rapaz casou com a filha do senhor Sol e da senhora Lua, foram felizes para sempre e tudo graças à inteligência viva da rã Mainu.


O Sahuli

Era uma vez um homem que se chamava Sahúli. Era cego e tinha dois filhos que se dedicavam à caça e andavam com uma espingarda.

Um dia, os filhos foram caçar para a região deserta e levaram o pai, para que guardasse a carne. Quando chegaram, montaram o acampamento e partiram para a caça.

O pai ficou sozinho e começou a ouvir atrás de si: nji!nji! Eram passos de uma pessoa. E Sahúli disse:
- Sê benvindo, amigo!
O que tinha chegado, respondeu:
- Obrigado, amigo! E perguntou a Sahúli:
- Ó amigo! De que é que sofres? Estás cego dos olhos ou do coração?
Sahúli respondeu: - Os olhos estão cegos! O coração, cá dentro, está são!
O outro voltou-se: - Então diz: "Claridade"!

Quando Sahúli disse claridade, os seus olhos abriram-se e viu o homem sentado à sua beira. Sahúli preparou um pouco de tabaco, acendeu-o e deu-o ao amigo. Depois, os dois começaram a arrumar o acampamento: foram à lenha, foram à água, varreram, fizeram comida. E tudo ficou em ordem. Por fim, aquele que tinha vindo, disse: - Ó amigo! Estás cego dos olhos ou do coração?

Sahúli respondeu: - Estou cego dos olhos. Então, diz "Escuridão"! Disse o amigo. E Sahúli disse escuridão e deixou logo de ver. Quando os filhos chegaram ao acampamento ficaram muito admirados e perguntaram: - Quem arrumou tudo isto? Sahúli contou-lhe o que se tinha passado, que tinha recuperado a vista por instantes. Os filhos disseram-lhe então: - Se esse amigo voltar, quando ele te pedir para dizeres escuridão, tu não dizes e em vez disso, vais dizer claridade. E vamos ver o que acontece! Fez-se noite e eles deitaram-se. E de manhã lá foram para a floresta caçar. O pai, mais uma vez, ficou no acampamento até que voltou a ouvir: nji!nji! Sahúli disse-lhe: - Sê bem vindo, amigo. O outro responde-lhe: - Obrigado amigo! E perguntou-lhe: - Ó amigo! De que sofres? Dos olhos ou do coração? Sahúli disse: - Estou cego dos olhos! E o amigo pede-lhe para ele dizer " Claridade".

Sahúli, mais uma vez, disse a palavra e os seus olhos abriram-se. Sahúli preparou novamente um pouco de tabaco, acendeu-o e ofereceu-lho. Depois de o terem fumado, começaram a fazer o trabalho deles.

Sahúli não se tinha esquecido do conselho dos filhos. Tirou comida e ofereceu-a ao amigo. E tudo correu bem até ao fim. Até que o outro se preparava para ir embora e perguntou a Sahúli:
- Ó Sahúli! Estás cego dos olhos ou do coração?! Ele respondeu dizendo:
- Os olhos estão cegos! O coração está são! E o outro:
- Ora diz "Escuridão"! Mas, Sahúli, lembrando-se do que os seus filhos lhe tinham dito, respondeu:
- "Claridade". E eis que ele continuou a ver! O amigo pegou numa mezinha que trazia consigo, aplicou-a nos olhos do Sahúli e eles ficarão sãos.

Despediram-se, fizeram cargas de carne para o outro e ele partiu. Quando os filhos voltaram, ficaram muito alegres por verem que o pai tinha recuperado a vista. Deixaram o acampamento e foram para a aldeia, onde os receberam com muitas palmas.
Fonte: Odisseia 2000


Porque o cachorro foi morar com o homem

O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia antigamente no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.
Os três brincavam de correr pelas Campinas sem fim, matavam a sede nos riachos e caçavam sempre juntos.
Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo com que aos animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.
Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.
– Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco de fogo- disse o lobo.
– Fogo?- perguntou o cachorro.
– Para queimara o capim e comer gafanhotos assados - respondeu o chacal com água na boca.
– E quem vai buscar o fogo?- tornou a perguntar o cachorro.
– Você!- responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o cão.
De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa boa.
O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus pontudos que protegia a aldeia dos ataques dos leões. A notícia, e das cabanas saía um cheiro gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de comer se distrair para ele pegar um tição.
Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a mulher, sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as passava para uma tigela de barro.
Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto do mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto comia, a criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão disse para si mesmo:
– Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando ordens. Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante vou morar com os homens e ajuda-los a tomar conta de suas casas.
E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso que o lobo e chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.


O Candimba e o Rato do Mato

O Candimba passava a vida a saltar vedações para roubar comida nas lavras e, por causa disso era sempre perseguido pelas pessoas e pelos cães.

Raro era o dia em que se não ouvissem gritos.

– Agarra, agarra que aí vai o Candimba!

O rato do mato, desconhecendo a razão de tudo aquilo, perguntou-lhe certo dia:

– Ouve lá, ó Candimba, que é que se passa contigo? Oiço sempre gritar pelo teu nome! Andas metido nalguma maca?

O Candimba, na sua esperteza, para não ser conhecido como gatuno das lavras, respondeu:

– Então não sabes o que se passa? Olha, olha, aquele barulho é da hiena que vive numa jaula, no quintal da minha vizinha Helena.

– Será mesmo? - estranhou o rato do mato.

– É mesmo! Se quiseres ter a certeza do que te digo, vai até à minha casa e logo verás se é verdade ou não.

O rato do mato, cheio de curiosidade, foi lá ter no dia seguinte.

O Candimba disse-lhe:

– Senta-te atrás deste morro de salalé e espera por mim. Eu vou chamar a Helena para ela te mostrar a jaula com a hiena lá dentro.

O rato do mato, convencido pelas palavras do amigo, ficou à espera.

O Candimba como de costume foi assaltar as lavras. Ele conseguiu roubar um abacaxi da lavra da Xana. Mas, nesse dia, andavam caçadores muito perto e, mal o Candimba saltou a vedação e roubou o abacaxi, viu um grupo de caçadores com lebres e perdizes penduradas no cinto.

Os cães correram logo atrás dele, a latir, e os homens perseguiram-nos com paus e com pedras a chover de todos os lados.

O Candimba, que era bom na corrida, em poucos minutos chegou à sua toca, muito assustado.

O rato do mato, ao vê-lo aflito, perguntou-lhe:

– Afinal que se passa? Donde vens tão atrapalhado?

– Atrapalhado o quê? Venho a correr para te avisar que a hiena da Helena já comeu hoje metade de um hipopótamo e ainda está cheio de fome. É melhor fugires.

Fonte: Odisséia 2000


Contos - Coleção de contos africanos








 














 BARRINHAS
BOA NOITE!








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